XVI - TRABALHAR PRA PAGAR AS CONTAS
Dezembro ia se aproximando e resolvi juntar minhas forças para conseguir um trabalho temporário. Foram dias andando, distribuindo currículos. Não tinha muito dinheiro, portanto ir à Cabo Frio, tentava distribuir o maior número de currículos possíveis. Meu marido não distribuía muito. Dizia que pra área dele não tinha nada e que eu precisava de alguém para cuidar das crianças em casa e levá-las pra escola.
Ele sempre foi melhor pai do que marido. Fazia almoço, dava banho, trocava fraldas, fazia mamadeira, levava e buscava de bicicleta na escola, me ajudava com a limpeza da casa. Disso eu não tinha o que reclamar. Embora a vida estivesse mais difícil, ele estava melhor também. Eu pedia a Deus que a dificuldade o fizesse um homem melhor e eu acreditava que ele estava melhorando.
Fui até uma antiga colega de escola que sabia que tinha uma loja de descartáveis e perguntei se estava precisando de homem pra trabalhar. Ela falou que o trabalho era de serviços gerais, que o salário era mínimo, mas precisávamos daquele dinheiro. Ela chamou meu marido para uma entrevista. Nesse mesmo tempo, fui chamada pra uma entrevista numa sapataria. O horário seria bom das 13 Às 20h. Daria pra ficar com as crianças pela manhã. Conseguimos trabalho ao mesmo tempo.
A questão era... o que fazer com as crianças à tarde? As férias já tinham começado e não tinha como pagar uma babá pra cuidar delas. Pedi a minha mãe para cuidar deles. Ela aceitou receosa no início. Minha filha não dava trabalho, mas meu filho era um bebê de 1 ano querendo andar e mexer em tudo.
Começamos os trabalhos. Ele saía mais cedo que eu e fazia questão de me buscar no trabalho. Tinha uma loja de roupas masculinas em frente à sapataria e eu tinha percebido que ele tinha ciúmes dos meninos. Vivia perguntando se eles iam na loja. Falei que nossa interação com eles era só de indicação para clientes e trocar dinheiro para troco.
Fui me adaptando ao trabalho e gostando. Ele não. Sempre reclamava que carregava peso, que estava nas entregas e que o trabalho era difícil de aguentar. A gente precisava daquele trabalho. Depois de algum tempo, a gente teria um Natal digno.
Uma semana depois, minha mãe falou que não dava mais para tomar conta das crianças. Que era muito trabalhoso e ela já estava velha. Eu sei que seria difícil pra ela. Que ela não tinha obrigação. Mas ela sabia que a gente precisava daquele trabalho. E que se eu fosse pagar alguém pra tomar conta, não sobraria nada do meu salário. Não valeria a pena trabalhar fora. Depois do Reveillon pedi pra sair do trabalho. Não pude ficar muito tempo, fiquei triste com minha mãe. Ela sabia que as aulas das crianças voltariam em fevereiro, mas mesmo assim me deixou na mão. Fiquei desempregada novamente.
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