X - VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
A gente ouve a vida inteira que em "briga de marido e mulher ninguém mete a colher". Foi somente dividindo o teto com um abusador que eu queria que esse ditado fosse diferente. O abuso primeiramente começa com ciúmes, depois te afastando de parentes e amigos, depois a violência psicológica. Depois de tudo o que eu passei ouvia dele: "Se você traiu o seu marido, você é capaz de me trair."
Foi uma época que me sentia extremamente só. Sem o apoio da família, eu tive que aguentar calada anos de violência. Pensava que talvez merecesse tudo o que estava me acontecendo. Me afastei da minha família, dos meus amigos, traí meu marido, levei minha filha para um ambiente violento e não podia pedir ajuda. A vergonha me impedia. Levei um ano inteiro até meus pais aceitarem ir até a casa deles e levar meu novo marido. Antes, eu só levava minha filha para vê-los e não passava da porta. No aniversário dela, decidi fazer uma festinha na creche porque não tinha clima para reunir a família. No dia seguinte, meus pais fizeram uma festa na casa deles com o pai dela e eu sequer fui convidada.
Alguns dias depois, começaram os tapas, as surras. Poderia ser por qualquer motivo. Eu tinha vergonha de ir trabalhar com os hematomas. Ele era extremamente simpático com todos, mas comigo perdia a paciência com facilidade. Se eu era simpática com alguém no trabalho e ele via, era uma surra que eu tomava em casa. Pensava na vergonha dos vizinhos que deveriam ouvir, mas nunca fizeram nada. Minha filha não assistia esses episódios de violência, porque depois da creche, chegava em casa e sempre a colocava pra dormir cedo e os finais de semana ela passava com o pai.
Meses depois, meus pais foram me visitar. Queriam saber onde eu estava criando minha filha. Eles olharam o apartamento e gostaram, mas tinha uma proposta a me fazer. Eles sabiam que nosso dinheiro tava apertado. Metade do salário dele era pra pagar pensão e recebia menos da metade do salário, mesmo juntando com com meu salário, as contas ficavam apertadas. Meu ex marido ainda morava na minha casa (que eu fiz a reforma, mas era dos meus pais). Meu avô tinha falecido e minha avó estava com uma casa desocupada. Era mais barato o aluguel, mas era num lugar mais longe do meu trabalho. Eu relutei em aceitar, mas meu novo marido aceitou. Eu morava longe. Precisava de duas conduções para levar minha filha na creche e trabalhar. A distância me levou ainda as poucas pessoas que gostavam de mim e as impediam de me visitar. Eu odiava aquela casa.
Com ovários micropolicísiticos minha menstruação era desregrada, Mas como eu tomava pílula, achava que estava protegida. Meu novo marido dizia que precisávamos ter um filho nosso, mas eu não tinha certeza. Eu queria acreditar que uma gravidez e um filho pudesse mudá-lo. Decidimos parar a pílula, alguns meses depois fiquei grávida. Ao anunciar a gravidez ele se mostrou feliz e disse que nossa família seria completa, que ele me amava e iria mudar
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