XIV - SE SENTIR UM FRACASSO


 

Meu filho continuou na creche até os três anos, quando foi transferido para a mesma escola da minha filha. Ficava mais fácil. O juiz havia expedido uma sentença de pensão alimentícia que meu ex tinha que pagar à minha filha. Com esse dinheiro fazia algumas compras e pagava a van para eles irem para a escola.

Meus pais sabiam dos problemas pelos quais estávamos passando e que não poderíamos mais pagar o aluguel. Meu marido não saía de casa pra buscar trabalho e eu ia todos os dias entregar currículo, mas sem sucesso. 

Certo dia, achei umas anotações dos meus pais com o valor que estávamos devendo de aluguel. Ali a ficha caiu. Eu não morava de favor. Estava em dívida. Sem trabalho, para onde iríamos? 

Meu pai fez uma cirurgia e convenci minha mãe a ficar no quarto da casa com ele. Depois de um tempo, conversei com ela, mesmo arrumando um trabalho, não seria o mesmo valor que eu recebia do Porto e que não poderia mais manter o aluguel.

Fomos morar na kitinet. Meus filhos dormiam na cozinha, nós num quarto pequeno. Não cabiam as crianças no quarto.

Consegui um trabalho numa padaria dentro do condomínio. Trabalhei alguns meses. Levei porrada algumas vezes do meu marido quando avisava que ia trabalhar no domingo. Eu tinha folga uma vez na semana, mas não poderia escolher o dia da minha folga. Não aguentei a pressão e saí.

Em casa comecei a desenvolver algumas receitas de pães para vender. Com folhetinhos em caixas de correio, começamos a vender pães caseiros. As entregas mais longes ele entregava de bicicleta. Trabalhávamos bastante, mas o dinheiro era curto e por causa da falta de dinheiro as brigas eram constantes.

Meu sogro nos ajudava um pouco, meus pais com o tempo, parou de nos ajudar. Acho que perceberam que ele não queria trabalhar. Foram morar numa casa no Distrito e alugou a casa grande.

O dinheiro era tão curto que passei a misturar água no leite para dar aos meus filhos. Uma caixa de leite tinha que durar ao menos 2 dias. Meu filho, foi desfraldado cedo. Não tínhamos condições financeiras pra comprar fraldas. A merenda da escola que mandávamos todos os dias era suco de caju e biscoito de maisena, porque era o que podíamos comprar. Meus filhos passaram a usar roupas doadas, e até o material escolar ficou difícil de comprar.

Meu marido ficava furioso porque havíamos sido mandados embora por um diretor mal caráter, que dizia querer matar. O dinheiro era curto. Nosso processo trabalhista não andava e não conseguíamos trabalho.

Numa manhã ele saiu de casa dizendo que ia na casa do pai dele, e ele não voltava. À noite fiquei preocupada e liguei para o pai dele. Meu sogro falou que tinha acontecido uma coisa, mas que agora tava tudo bem. Eu não podia sair de casa com duas crianças pequenas porque não tinha dinheiro nem pra passagem. Quando meu marido chegou e perguntei o que tinha acontecido, ele falou que tinha ido até a favela, pego emprestado duas armas e tinha ido atrás do diretor. Chegando em um local foi surpreendido por um guarda municipal que nos conhecia e vendo a arma dele, pediu que não fizesse nada que poderia fazê-lo se arrepender depois. Ele depois disso, foi pra casa do pai dele até se acalmar.

Depois que ouvi tudo, eu senti muita raiva dele. Como se atreveu a querer fazer uma merda daquela que não iria nos ajudar e que pioraria minha vida e das crianças? Agradeci a Deus o livramento, mas a penúria tinha que acabar.

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