XXV - PERSISTIR NO ERRO
Quando chegamos em casa, ele me acusou de dar mole pro cara, de ter aceitado uma festa dele, de ter deixado ele de lado... de novo, apanhei. No dia do meu aniversário. Um dia que eu era pra estar feliz. Feliz com as pessoas que gostavam de mim. Celebrar alegrias, mais um ano de vida... mas fui dormir chorando.
Mais uma vez, meus filhos ouviram, tentaram interferir... Pedi que eles fossem dormir na casa dessa minha amiga. Eu não aguentava mais tanta dor... Minha filha perguntava: Porque você ainda está com ele? Eu nem sabia mais responder...
Conviver com pessoas violentas é extremamente difícil. Elas não costumam tratar os outros bem, causando desconforto em quem está ao seu redor. É necessário ter muita paciência e controle emocional para não se deixar levar por suas palavras e condutas. E cada palavra proferida a mim, doía como enfiar um punhal no meu coração...
Como eu poderia amar um homem daquele jeito? Porque não amar um homem que possa me ver feliz... que me traga alegrias, que se sinta feliz comigo. Eu estava acabando com minha vida e com a vida dos meus filhos.
O abuso emocional, muitas vezes vêm acompanhado de dependência emocional. Eu desenvolvia uma Síndrome de Estocolmo. Fazia as coisas que ele queria, me submetia ao ciúme irracional dele e não conseguia me desvencilhar. Conversamos a partir dali, que ficaríamos juntos para criar nossos filhos, que nossa vida de marido e mulher estava encerrada.
Meu filho cada vez mais se mostrava arredio com o pai. Quando ele me via mal, perguntava logo: "O que ele fez agora"?
Eu nunca alienei meu filho para não gostar do pai. Mas ele mesmo se mostrava pros meus filhos. E eles já o estavam enxergando. Meus filhos falaram que detestavam voltar pra casa, assistir nossas brigas... Nosso lar já havia se destruído, não dava mais pra viver...
A depressão piorou. Busquei ajuda médica, que só me entupia de tarja preta. Eu me sentia pior. Só queria dormir e não acordar mais. E foi nessa dor que tomei de uma só vez 10 comprimidos de Clonazepan de 2 mg. Fiquei tão dopada que dormi o fim de semana inteiro. Meus filhos ficaram preocupados, meu marido bravo. "Quer se matar e colocar a culpa em mim?". Eu não queria morrer, só que a dor me deixasse.
Saíamos pra trabalhar, voltávamos, fazia o jantar, comia e ia dormir. O diálogo entre nós dois não existia mais...
Minha filha começou a ficar mal com o ambiente de casa. Uma vez, foi até um Centro Espírita que uma amiga da escola a convidou. Ela foi lá e disse que adorou. Falou ainda que tinha um recado pra mim e pro meu marido, era pra nós dois irmos lá.
Ficamos meio céticos no início. Nada tinha resolvido nosso relacionamento. Será que a religião nos salvaria? Passou um mês e fomos até o Centro para visitar. Chegamos lá e ficamos sabendo que o Centro era de Umbanda branca. Um mesmo Centro que visitei com uma amiga quando eu saí da Igreja. Era um ambiente pequeno, mas extremamente acolhedor. Era dia de consultas com Pretos Velhos e conheci uma vovó chamada Maria Conga. Conversando com ela, eu soube que tinha muitas amarras no nosso casamento. Carmas de vida passadas, trabalhos feitos, e inveja, e que deveríamos entrar em tratamento espiritual. Próximo ao encerramento da gira, todos puderam ir embora, menos a gente. Precisavam fazer uma "puxada" que são maus espíritos e obsessores que nos acompanham trazendo violência e tristeza. Os meus foram facilmente puxados, o dele não.
Os vovôs se reuniram e disse que o trabalho não poderia ser feito só naquela noite. Que o tratamento deveria continuar... Saí de lá mais leve, com a promessa que retornaríamos depois de 15 dias. Retornamos, no final da gira, todos iam embora, menos a gente... Nova sessão de descarrego e desobsessão... Saímos de lá com uma lista de banhos de ervas que deveríamos tomar e uma lista de trabalho que deveríamos fazer para retirar a demanda. Foram meses assim...
Em casa, o ambiente estava mais leve, nosso "amigo" tinha ido embora pro Sul e nossa vida tinha finalmente voltado ao lugar. Saíamos mais vezes sozinhos para namorar, e a violência não fazia mais parte da minha vida.
Mesmo estando melhores, continuamos a frequentar o Centro. E após um ano frequentando, recebemos o convite para participar da corrente de médiuns. Eu como rodante, ele como cambone. A caridade e se dispor para o outro nos mudou, nos enriqueceu... Nos fez melhores como pessoas. Nossa vida estava mais feliz.
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