XVII - TENTANDO DAR A VOLTA POR CIMA

Logo depois da loja de descartáveis, meu marido através de um colega, conseguiu um trabalho na Segurança de uma fábrica de sal. Lá tinha benefícios que a gente precisava: plano de saúde, cesta básica... O horário dele era de tarde para a  noite e passou a ajudar muito em casa.

Ele levou meu currículo quando soube que tinha aberto uma vaga para recepcionista na mesma empresa. Fiz a entrevista e consegui o trabalho. Como o salário era melhor, consegui pagar uma pessoa para tomar conta dos meus filhos. Eu pagava a metade do que ganhava, mas ao menos nossa vida teria mais dignidade.

Meu marido estava melhor. A gente vivia melhor. Conseguia fazer compras, com a cesta básica a gente conseguia ajudar minha irmã que estava num casamento de merda e meus pais. De vez enquando dava pra sair com as crianças e as vezes saíamos sozinhos pra algum barzinho.

Almoçávamos no trabalho, na alimentação dava pra economizar, comprava mais coisas pras crianças pra mandar pra casa da babá. 

Nossa vida finalmente estava melhorando. O ciúme dele ainda era doentio. Ele me fazia jurar que nunca pegaria carona com homem nenhum ou ficasse de conversa com eles durante o trabalho. Eu era profissional e muito séria. O medo de algum desconforto no trabalho me afligia.

O trabalho era chato, mas pagava as contas. Conseguíamos almoçar juntos na empresa e nossos setores ficavam longe um do outro, graças a Deus. Os ataques de fúria dele eram cada vez mais espaçados, e raros.

Numa festa de fim de ano da empresa, estávamos lá com outros colegas, quando sem querer um colega do setor dele falou sobre uma garota da limpeza e que havia um murmurinho que meu marido estava pegando ela...  Questionei ele e ele me jurou de pés juntos que não. Que era fofoca, porque ele se dava bem com todo mundo. Aquela incerteza me machucou. Depois daqueles anos difíceis, será que ele faria isso comigo?

Certo dia, meu advogado me ligou, ele tinha boas notícias sobre o meu processo trabalhista contra o Porto.