VII - CASEI PORQUE ESTAVA GRÁVIDA
A pegação virou namoro. A relação durou uns seis meses até que no mês de janeiro de 2001, descobri uma gravidez. Eu tomava pílula. Chorei por dias, eu fazia faculdade em Silva Jardim, tinha um emprego estável em Búzios e estava grávida morando na casa dos meus pais com 23 anos.
Não foi difícil contar pra ele. Disse que o maior sonho dele era ser pai. Mas tinha acabado de ser demitido da Operadora de Mergulho e só eu trabalhava. Como eu ia contar aquilo pros meus pais?
Numa noite não fui à faculdade, falei com minha mãe que precisava conversar com ela. Avisei que estava namorando há um tempo e ele gostaria de conhecê-la. Quando o levei pra conhecê-la, precisava ver a cara de espanto dela ao ver que ele era preto. Fui criada num ambiente bem racista. Meu avô dizia pras netas que tínhamos que clarear a cor e não escurecer... Sim, eu ouvia isso. E meu pai sempre se referia às pessoas pretas como neguinho, tiziu... Então imagina.
Quando ele conheceu minha mãe, ela foi educada mas não foi amorosa como fazia com outros namorados meus. Ele insistiu que tínhamos que contar sobre a gravidez naquele momento, balancei a cabeça, fazendo gesto que não. Ele entendeu.
Resolvi largar a faculdade... Nem trancar dava jeito, já estava devendo algumas mensalidades. Não tinha mais como bancar. Um filho estava chegando e com um pai desempregado. Que burra eu fui!
Trabalhava em Búzios e o trajeto para o trabalho levava 1 hora e meia. Muito tempo dentro de um ônibus para meus enjoos matinais. Precisava resolver isso também.
Quando resolvi contar pra minha mãe, ela me deu lição de moral. Disse que eu tinha acesso a informação, que fiquei grávida porque quis, que abandonei a faculdade, onde eu iria morar... Não me deixou contar pro meu pai, ela falou que ela conversaria com ele.
Os dias foram se passando e precisava resolver a questão do trabalho. Eu tinha um amigo que era amigo do meu ex. Foi eleito vereador na cidade. Através dele consegui uma cessão para o município de Arraial por 4 anos. Isso daria um jeito na questão de viajar todos os dias grávida.
O outro continuava desempregado. Acho que gostava disso. Escolhia trabalho. Não queria qualquer coisa.
Abriu concurso pro Porto em Arraial. O cargo de secretária que eu queria, só tinha 1 vaga. Me inscrevi e estudava após o trabalho.
Um dia meus pais chamou a gente pra conversar, disse que como eles eram da Igreja que a gente precisava casar. Que iriam ceder a casa de cima pra gente morar mas precisava de algumas reformas. Tinha que azulejar cozinha, colocar forro no teto que tinha um telhado super quente, comprar móveis e comprar o enxoval do bebê. Tudo ao mesmo tempo.
O primeiro passo foi a reforma da casa. Com meu salário fui comprando material e pagando o pedreiro. Como o outro lá estava sem trabalhar, ajudou na pintura da casa. Marcamos o casamento na Igreja. Meu Deus, a gente não tinha grana para a festa.
Antes do casamento, meu pai arrumou um trabalho pra ele numa fábrica de sal. Ele odiava. Reclamava todo dia. Mas precisávamos do dinheiro. A barriga ia aparecendo e minha mãe tinha pressa do casamento. Casei em junho daquele ano. Consegui pagar o aluguel de um vestido, os padrinhos me ajudaram com alguns móveis e meu pai pagou a festa.
Fomos morar na casa em cima dos meus pais. Imaginem a falta de privacidade. Com o trabalho do então meu marido, ele foi beneficiado com plano de saúde para o pré Natal, exames e o parto cesáreo. Minha filha nasceu numa manhã de primavera em 03 de outubro. Sim, ela me tornou mãe!
Ainda de resguardo do parto e de licença no trabalho, fui convocada pra prova no Porto. Eu lembro que não consegui dormir porque minha filha trocava o dia pela noite. Era um recém nascido ainda. Bombeei leite durante a madrugada, e deixei minha filha com minha mãe para fazer a prova. Um Mês depois descobri que fui aprovada em primeiro lugar no Concurso. Ia ganhar o dobro que eu ganhava. Poderia possibilitar uma vida melhor à minha família.
Dias se passaram. Aquela era minha vida. Não era uma família perfeita nem feliz, mas era a vida que eu tinha procurado. Minha filha era perfeita.
Após meu período de licença maternidade, fui convocada para trabalhar no Porto. Contratei uma babá para tomar conta da minha filha enquanto eu trabalhava.
O meu marido trabalhou algum tempo na fábrica, depois por faltar demais foi demitido. Foi o início do caos no meu casamento. Com ele desempregado as contas eram todas para mim. Nem eu nem minha filha tínhamos mais o Plano de Saúde.
Depois de alguns meses, ele arrumou um trabalho em uma operadora de mergulho. Ganhava salário mínimo, mas pelo menos ajudava nas contas.
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