XXVII - CASAMENTO

 


O casamento é constante aprendizado. A gente se apaixona, e de repente já não vê mais tudo aquilo que você admirava no seu parceiro. A rotina vai retirando todo aquele tesão de início e as dificuldades, elas vêm. A dificuldade no relacionamento, ela pode ser conversada, acertada, mas quando há violência doméstica, o que você acerta?

Por anos eu tentei pôr fim no meu relacionamento. Primeiro a vergonha impedia, depois a falta de apoio, depois você pensa nos filhos e o pior dos motivos: o medo. Medo de morrer, medo de ser um estorvo pra família, de ser a vergonha dos filhos... Eu passei por todas essas fases. Mas o que levou meu casamento até hoje, posso dizer que não foi só resiliência, foi a minha fé. Não vou e nunca romantizarei a violência doméstica. Eu sofri muito. Sofri o que nenhuma mulher deveria sofrer pelas mãos de quem ela ama. Embora sofresse, não podia dizer que minha fé foi inquebrantável. Eu caí diversas vezes e com a queda, eu levantei mais forte.

A espiritualidade (diferente de Religião) foi essencial na minha vida. Passar todo o sofrimento de abuso infantil e violência doméstica me deu um dom. Um dom de identificar esses abusos e ajudar. A ter empatia com a dor do outro, aquela dor que eu conheci por tantos anos.

Agradeço muito a espiritualidade por me fazer a mulher que sou hoje. Imperfeita sim, mas capaz hoje de lidar com o que vier na minha vida.

Depois que descobrimos a espiritualidade e nos demos mais uma chance, ao completarmos 20 anos de união, nós nos casamos. Primeiramente uma cerimônia não-oficial. Era um sonho meu casar na praia, a primeira celebração foi junto com uma celebrante e a presença de familiares e amigos mais próximos, depois no barracão junto aos irmãos de fé.

Diante de tudo posso afirmar: os amigos de verdade cabem numa mão só (e ainda sobram dedos) e parentes é só uma relação consanguínea, não quer dizer que seja família. Família é onde está nosso coração. Que marido e mulher devem ser parceiros de caminhada. E saber que não importa os desafios que venham a nos separar, que sempre encontraremos o caminho de volta. Falar quando as palavras forem necessárias e compartilhar o silêncio quando não forem. E respeito pelo outro. Isso nunca pode faltar. É isso que acredito. Isso para mim são os valores de um casamento.


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